12.12.07
E chego agora ao fundo desta tirada aparentemente gratuíta. Pensando como penso, sentindo o que sinto sobre a guerra, eu recusar-me-ia, no entanto, a destruir os livros que tratam do fabrico de material de guerra ou de máquinas de guerra, ou da confecção de gases tóxicos ou da criação de bactérias mortíferas, ou de qualquer outra das invenções diabólicas dos espíritos militares: não destruiria os livros que se ocupam de estratégia ou das regras e convenções que regem a arte da guerra "civilizada". Pelo contrário, gostaria de ver intensificada a distribuição e circulação de toda essa literatura. Desejaria ver informadas sobre estas questões tanto as crianças como os adultos. Faria com que todos os homens, mulheres e crianças de toda a terra se familiarizassem com essas palavras, e as conhecessem tão bem como se pretende que conheçam a Bíblia Sagrada. Iria mais longe ainda. Colocaria a Bíblia numa estante, e, noutra, toda essa literatura homicida. Diria: se olham para uma, têem que olhar também para a outra. Faria uma distinção clara entre o livro onde se ordena que não matemos e todos os outros livros onde a matança dos homens, a matança maciça, é ensinada, explicada, aprovada e exemplificada. Lançaria família contra família, irmão contra irmão, em torno desta questão simples. Recomendar-lhes-ia: ajam de acordo com a vossa consciência. Em breve se decidirá a sorte do mundo: continuará a existir ou deixará de existir. Se são pelo mundo da guerra, alistem-se imediatamente para a guerra! Não nos confundam com a vossa indecisão. Não falem de moral se o vosso objectivo final é colaborar na destruição do nosso mundo.
Entre a Bíblia e os manuais do matadouro, situa-se o mundo da literatura, criado pela paixão, pela sede e pela imaginação do homem, e ocupando-se do pensamento, das acções, dos sonhos e das aspirações do homem. É um mundo extraído da vida, interessado apenas na vida, e que alimenta a vida. Se nele há morte, é só na medida em que lhe falta chama, profundidade, liberdade e capacidade de escolher. Se esse imenso produto da energia criadora fosse uma celebração da morte, não passaria de uma caricatura.
(...)Monstro, robot, escravo, ser maldito - pouco importa o termo utilizado para transmitir a imagem da nossa condição desumanizada. Nunca a condição da humanidade no seu conjunto foi tão ignóbil como hoje. Estamos todos ligados uns aos outros por uma ignominiosa relação de senhor e servo; todos presos no mesmo círculo vicioso entre julgar e ser julgado; todos empenhados em destruir-nos mutuamente quando não conseguimos impor a nossa vontade. Em vez de sentirmos respeito, tolerância, bondade e consideração, para já não falar em amor, uns pelos outros, olhamo-nos com medo, suspeita, ódio, inveja, rivalidade e malevolência. O nosso mundo assenta na falsidade. Seja qual for a direcção em que nos aventuremos, a esfera da actividade humana em que nos embrenhemos, não encontramos senão enganos, fraudes, dissimulações e hipocrisia. (...)É minha convicção que estamos hoje a atravessar um período a que se poderia chamar de "insensibilidade cósmica", um período em que Deus parece, mais do que nunca, ausente do mundo, e o homem se vê condenado a enfrentar o destino que para si próprio criou. Num momento como este, a questão de saber se um homem é ou não culpado de usar de uma linguagem obscena em livros impressos parece perfeitamente inconsequente. É quase como se eu, ao atravessar um prado, descobrisse uma erva coberta de esterco e, curvando-me para a ervilha obscura, lhe dissesse em tom de admoestação: "Que vergonha!".
(Henry Miller- "A obscenidade na literatura", in O MUNDO DO SEXO E OUTROS TEXTOS)
29.11.07
Fuck
Hoje olhei no fundo dos olhos da minha filha e encontrei a minha resposta: não. Eu não quero fazer parte da violência e não quero ajudar a gerar um péssimo futuro: hoje digo não a todas as drogas deste mundo. Quero dignidade. Não vou cair nessas “redes”.
E imploro para que esse planeta de drogados pare para pensar. Pare para fugir. Porque somos nós os culpados. Não há sistema. Não há sociedade. Existem indivíduos. Muitos hipócritas, porém livres. Muitos manipulados, porém livres. Portanto, vamos usar nossa liberdade para dizer não. Eu não voto mais, eu não assisto às merdas da tv, eu não lambuzo meus cabelos sedosos com o shampoo super hiper perfect. Eu PROTESTO para uma vida linda a minha filha linda e a todas as crianças que não tem culpa de nada e vão acabar nessa bosta depressiva que vivemos nós.
Eu protesto contra você que gera isso que usa isso que se cobre com isso e que venera todo o resto dessa porcaria, eu protesto contra você que financia isso e concorda com isso, eu protesto contra você que conhece este mal e não usufrui dele mas deixa os outros usufruir. Bando de idiotas. Isso tudo vai acabar com a ingenuidade dos olhinhos da minha pequena. E vai ferir o amor mais belo que a humanidade já viu: o amor próprio.
Não são os politicos, não são os pais, não são os filhos. É você. Sacou?
28.11.07
A liberdade do sofrimento
Além disso, é só então que o verdadeiro significado do sofrimento humano se torna claro. No derradeiro momento desesperado - quando não podemos sofrer mais! - acontece qualquer coisa que tem a natureza de um milagre. A grande ferida aberta pela qual se escoava o sangue da vida fecha-se, o organismo desabrocha como uma rosa. Somos «livres», finalmente (...). Não são as lágrimas que mantêm viva a árvore da vida, mas sim o conhecimento de que a liberdade é real e eterna.
Henry Miller, in 'Plexus'
Piano
Fazendo-me voltar e descer o panorama dos anos, até que vejo
uma criança sentada debaixo do piano, na explosão do prurido das
cordas
E pressionando os pequenos, suspensos pés de uma mãe que sorri
enquanto ela canta.
Apesar de mim, a insidiosa mestria da canção
Atraiçoa-me fazendo-me voltar, até que o meu coração chora para
pertencer
Ao antigo entardecer dos domingos em casa, com o inverno lá fora
E hinos na aconchegada sala de visitas, o tinido do piano o nosso guia.
Por isso agora é em vão que a cantora irrompe em clamor
Com o appassionato do grandioso piano negro. A magia
Dos dias infantis está em mim, a minha masculinidade
É desencorajada no fluxo da lembrança, choro como uma criança
pelo passado.
D.H. LAWRENCE
19.11.07
14.11.07
Cuidado fatal (2)
13.11.07
Cuidado fatal (1)
Os relógios marcam teimosamente as horas. Eu ainda espero. É verdade. E dá para colar um cristal quebrado?
Dei tudo que tinha. "Lancei meus poemas na arena". Fui incompreendida.
Eu sou uma contrabandista de idéias, pensamentos, verdades, mentiras e personagens. E embora não pareça tenho muita paciência.
Certo dia fui há um clube de dança e encontrei um senhor. Parecia-me mais jovem e parecia muitas coisas que não eram. Ele falava bonito. Era engraçado e gostava muito de música. Batemos altos papos culturais movidos a cachaça e admiração mútua. Alegria nutrida de solidão e transformada em orgulho. Era um brilhante pianista que fazia das notas sua fala. Ao contar e cantar tudo o que passava. Ao encantar quem o fitava. Eu fui o seu público por aquele instante. E por outros mais. Eu fui de Beethoven à Dresden Dolls. Assim, o senhor pianista me viciou com sua notinhas classicas, punks, dodecafônicas, infinitas.
Eu queria beijá-lo, mas não sabia disso. Demorei a descobrir.
Mas esqueci de descrevê-lo. Ele tem os olhos negros e resistentes. Tristes. Acho que rancor, sei lá. Tipo de um soldado inimigo. Mas o sorriso acalma o olhar e desmascara. E tudo vira o contrario. E o soldado já parece um anjo caído. Os traços fortes. Brutos. Cabelos pretos, lisos. Oscila entre uma aparencia adulta e um visual de moleque. Mas ele prefere não ser nada. Não parecer nada. Nem sentir...
Depois eu saí daquele lugar. Tava estressada com o mundo. Queria beber. Encontrar pessoas. Aproveitar o momento que haviam me proporcionado. E fui. Fui mesmo. Ele ficou preocupado comigo. Engraçado como as coisas invertem o sentido. Invertem o sentir.
Eu vou falar de mim agora. Do coração muro de pedras restou um coração espedaçado quase quase em reconstituição. Ele me devolveu uma boa parte. Mas logo tomou-a para si e tomou ainda mais do que havia me dado. E eu fiquei aqui. Sentada. A sós com minhas palavras. Mas feliz por tê-lo beijado, ainda não falei nada sobre isso, mas logo conto. O beijo me mostrou uma vida há tanto tempo desolada. Leve. Bruto e intenso. Aff!!!!
(continua...)
7.11.07
Sem estrelas...
Acho graça nas pessoas. Inclusive eu. Aí eu fumo um cigarro e fico pensando. Gosto de surpresas. As coisas só acontecem pra mim em forma de surpresa. Como se fosse inevitável. Fui surpreendida com você. Depois me surpreendi novamente quando te conheci. Nem sempre surpresas agradáveis. Mas eu gosto das agradáveis, é claro.
Minha filha me surpreende todos os dias. Ela é fantástica. Queria ser ela várias vezes ao dia. Indestrutível. Que amor louco é esse de mãe.
Voltando ao principio eu te amo. Amo que nem atriz de cinema, amor de teatro. Assim a dor também é de mentirinha. Superficial. Só vale como descoberta. “O poeta é um fingidor/ Finge tão completamente/ Que chega a fingir que é dor/ A dor que deveras sente”. Só não entendo porque ferir tanto. Hahahaha. Sou uma abestalhada. Odeio os derrotados. É por isso que te amo. De mentirinha.
Ohhh! Nem foi um orgasmo seu tolo! Eu inventei tudo. Mas quase acreditei... Não sei mesmo.
1.11.07
Aonde Pode Levar a Sinceridade
Friedrich Nietzsche, in 'Humano, Demasiado Humano'
25.10.07
MÃE-COISA
Eu- Clarice,
Clarice - Eu.
Eu me abri e você de mim nasceu. Um dia eu me abri e você nasceu para você mesmo. Quanto ouro correu. E quanto rico sangue se derramou. Mas valeu a pena: és pérola de meu coração que tem forma de sino de pura prata. Eu me esvaí. E tu nasceste. E me apaguei para que tu tivesses a liberdade de um deus. És pagão mas tens a benção da mãe.
E. E a mãe sou eu.
Mãe túmida. Mãe seiva. Mãe árvore. Mãe que dá e nada pede de volta.
Mãe música de órgão.
Hasteia a bandeira, filho, na hora de minha sagrada morte. E dou tal profundo grito de horror e louvor que as coisas se partem à vibração de minha voz única. Choque de Estrelas. Pelo enorme monstruoso telescópio me vês. E eu sou gélida e generosa como o mar. Morro. E venho de longe como o silente Ravel. Sou um retrato que te olha. Mas quando quiseres ficar só com a tua namorada-esposa cobre minha cara doce com um pano escuro e fosco - e eu nada verei. Eu sou mãe-coisa pendurada na parede com respeito e dor. Mas que funda alegria em ser mãe. Mãe é doida. É tão doida que dela nascem filhos. Eu me alimento com ricas comidas e tu mamas em mim leite grosso e fosforescente. Eu sou o teu talismã.
23.10.07
Hilda Hilst disse e eu repito:
Trabalhas tua riqueza, e eu trabalho o sangue.
Dirás que sangue é o não teres teu ouro
E o poeta te diz: compra o teu tempo.
Contempla o teu viver que corre, escuta
O teu ouro de dentro. É outro o amarelo que te falo.
Enquanto faço o verso, tu que não me lês
Sorris, se do meu verso ardente alguém te fala.
O ser poeta te sabe a ornamento, desconversas:
"Meu precioso tempo não pode ser perdido com os poetas".
Irmão do meu momento: quando eu morrer
Uma coisa infinita também morre. É difícil dizê-lo:
MORRE O AMOR DE UM POETA.
E isso é tanto, que o teu ouro não compra,
E tão raro, que o mínimo pedaço, de tão vasto
Não cabe no meu canto.
14.10.07
Hei Boy, listen to that!!!!!
Johnny Cash
Hmm an old man on his deathbed once said to me
You are the master of your destiny
A diamond is a diamond and a stone is a stone
But a man's not all good nor all bad
When the chips're all down and your back's at the wall
You're the best friend that you've ever had
You're the best friend that you've ever had
So you laugh when it's time to laugh and you cry when it's time to cry
Live while it's time to live cause you'll die when it's time to die hmm
Then he closed his eyes and he left me alone
This old man's wisdom brought his meaning home
A diamond is a diamond...
Well now that I'm older I found this is true
The thing that remains is the good that you do
A diamond is a diamond and a stone is a stone
But a man's not all good nor all bad
When the chips are all down and your back's at the wall
God is the best friend that you've ever had
God is the best friend that you've ever had
So you laugh when it's time...
10.10.07
Uma declaração de amor sincero
Hoje chorei muito e meus olhos ficaram inchados e vermelhos. Pensei na gente. Pensei no que vale a pena lutar, no que seria melhor esquecer. Sei o quanto é dificil me amar, sou inconcludente. Mas é involuntário. Ando meio fora de orbita. Entretanto, meu querido vaga-lume, você ilumina essa noite escura que faço de mim. E não é simples, assim como eu. É muito dificil te amar. Nunca consigo captar a sua verdade. Nem mesmo tenho certeza de que ela existe. Falta uma nota precisa de classicismo heróico nesta música moderna. Você é ao pé da letra demais e eu não acompanho e tu não me acompanhas. Até que o acaso nos deu um tiro certeiro. E o meu susto virou medo e meu medo desespero e eu não soube, não soube explicar a ti o que queria. Não fui mulher querida. Estou impotente diante do que sinto e do que queria lhe fazer sentir. Quero agora me reinaugurar. Voar baixo para não esquecer o chão. Ainda viverei muitas coisas. E sempre terei essa pressa em sentir tudo. Porque sou assim. Não quero que nada se perca.
Foi numa noite qualquer e maravilhosa que eu percebi que te amar era inevitavel que te querer seria um risco e que te ter seria um desafio.
Hoje tento. Apesar de sagaz, não compreendo realmente o que esta me acontecendo. E o mundo me exige decisões para as quais eu não estou preparada. Decisões sobre a melhor forma de ser. Obcecada pela vontade de ser feliz eu me perco na vida. Mas estou certa de que gostaria de tê-lo até quando acabar esse amor, ao meu lado.
9.10.07
PENSAR É DECOMPOR
Há um grande cansaço na alma do meu coração. E choro o silêncio de todas as portas.
Eu quero muito
Onde eu possa ficar no tamanho da paz
E tenha somente a certeza
Dos limites do corpo e nada mais
Eu quero carneiros e cabras pastando solenes
No meu jardim
Eu quero o silêncio das línguas cansadas
Eu quero a esperança de óculos
E um filho de cuca legal
Eu quero plantar e colher com a mão
A pimenta e o sal"
Yeah, Elis!
3.10.07
Pouca inspiração
Mas eu já conheço o enredo.
Cheguei, hoje, a uma sensação absurda e justa.
Eu sou um pêndulo oscilante, sempre movendo-se para não chegar, indo só para voltar, preso eternamente à fatalidade de um movimento inutil.
E sofro a delicadeza de meus sentimentos.
Eu nunca fiz senão sonhar.
Um regaço para não chorar...
E tu meu querido.
Só me abraças forte quando queres.
Tenho a impressão de que por um fio de segundo te torno insensível.
É como se o teu enigma fosse eu.
E o meu você.
Assim nada revela além do que já sei.
Teu segredo sou eu.
Simples atração.
28.9.07
Love Calls You By Your Name
You thought that it could never happen
to all the people that you became,
your body lost in legend, the beast so very tame.
But here, right here,
between the birthmark and the stain,
between the ocean and your open vein,
between the snowman and the rain,
once again, once again,
love calls you by your name.
The women in your scrapbook
whom you still praise and blame,
you say they chained you to your fingernails
and you climb the halls of fame.
Oh but here, right here,
between the peanuts and the cage,
between the darkness and the stage,
between the hour and the age,
once again, once again,
love calls you by your name.
Shouldering your loneliness
like a gun that you will not learn to aim,
you stumble into this movie house,
then you climb, you climb into the frame.
Yes, and here, right here
between the moonlight and the lane,
between the tunnel and the train,
between the victim and his stain,
once again, once again,
love calls you by your name.
I leave the lady meditating
on the very love which I, I do not wish to claim,
I journey down the hundred steps,
but the street is still the very same.
And here, right here,
between the dancer and his cane,
between the sailboat and the drain,
between the newsreel and your tiny pain,
once again, once again,
love calls you by your name.
Where are you, Judy, where are you, Anne?
Where are the paths your heroes came?
Wondering out loud as the bandage pulls away,
was I, was I only limping, was I really lame?
Oh here, come over here,
between the windmill and the grain,
between the sundial and the chain,
between the traitor and her pain0,
once again, once again,
love calls you by your name.
(L. Cohen) Stranger Music, Inc.
18.9.07
LADO FRAGIL
Palavras são tolas em tolas bocas
Poe a mesa ou vira a mesa
Só não te esqueça não é por mal
O mal que eu te faço
Parece não haver mais soluções
As nuvens já foram pintadas de chuva
São maldades ou fraquezas
Só não se esqueça não é por mal
O mal que eu te faço
Não te trago respostas
Não lhe entrego as minhas chaves
Sem querer deitei no teu lado
Mais FRÁGIL
Só nunca esqueça não é por mal
O mal que eu te faço
O mal que eu te faço
O mal que eu te faço
Paulo H de Nadal, meu querido amigo e ídolo.
Vladimir Maiakóvski
1
Me quer ? Não me quer ? As mãos torcidas
os dedos despedaçados um a um extraio
assim tira a sorte enquanto no ar de maio
caem as pétalas das margaridas
Que a tesoura e a navalha revelem as cãs e
que a prata dos anos tinja seu perdão penso
e espero que eu jamais alcance
a impudente idade do bom senso
2
Passa da uma
você deve estar na cama
Você talvez sinta o mesmo no seu quarto
Não tenho pressa
Para que acordar-te com o relâmpago
de mais um telegrama
3
O mar se vaio mar de sono se esvai
Como se diz: o caso está enterrado
a canoa do amor se quebrou no quotidiano
Estamos quites
Inútil o apanhado
da mútua dor mútua quota de dano
4
Passa de uma você deve estar na cama
À noite a Via Láctea é um Oka de prata
Não tenho pressa para que acordar-te
com relâmpago de mais um telegrama
como se diz o caso está enterrado
a canoa do amor se quebrou no quotidiano
Estamos quites inútil o apanhado
da mútua do mútua quota de dano
Vê como tudo agora emudeceu
Que tributo de estrelas a noite impôs ao céu
em horas como esta eu me ergo e converso
com os séculos a história do universo
5
Sei o puldo das palavras a sirene das palavras
Não as que se aplaudem do alto dos teatros
Mas as que arrancam caixões da treva
e os põem a caminhar quadrúpedes de cedro
Às vezes as relegam inauditas inéditas
Mas a palavra galopa com a cilha tensa
ressoa os séculos e os trens rastejam
para lamber as mãos calosas da poesia
Sei o pulso das palavras parecem fumaça
Pétalas caídas sob o calcanhar da dança
Mas o homem com lábios alma carcaça.
17.9.07
13.9.07
RENAN CALHEIROS
PRECISA FALAR ALGUMA COISA A MAIS? Que cada um faça seu juízo, porque o meu já se irritou com uma tremenda dor de cabeça pela manhã em cada artigo que eu lia sobre o assunto.
E AGORA JOSÉ??????????????????????????
12.9.07
ENTENDA-ME BEIBE
E aceitei o destino impiedoso
Daquela que agora com o rosto nu
Desfaz a máscara de mulher
Eu não sou mais uma flor
“sou um palhaço pensativo”
De lábios encarnados
Enquanto isso envelheço
Sem o peso da eternidade sobre mim
Posso começar tudo novamente com os pés no chão
Que termino descalça acima das nuvens
Engraçado é a vida
Esperar que algo amadureça
É uma experiência sem par
Como no reino vegetal
Ó rúculas azedas
Nem sempre gosto de saborear
Muito me cansa
Muito me cansa esperar
11.9.07
Portfolio da Derrota - Poema
Tendo perdido empáfia e ego meus
Trago o corpo lanhado
Das surras que apanhei calado
Do rastejar que rastejei
No fundo do fundo onde andei
(achei o poema num blog perdido)
3.9.07
E a responsabilidade, por onde anda?
Não acho cabível que dezenas de pessoas aguardem o atendimento pelo SUS nos postos e hospitais, enquanto outras se dirigem a “portinha ao lado” e recebem atendimento imediato quando PAGO. Esta não é uma realidade apenas da minha cidade, muito menos do meu Estado. Mas acredito que, ao menos para mim, é muito mais constrangedor se dirigir, silenciosamente, à “portinha ao lado” do que aguardar tranquilamente na fila.
Pior que isso, muitas vezes, é o atendimento recebido. Existe um grave descaso que separa os pacientes que pagam dos que não pagam. E o atendimento, que deveria ser igual, é muitas vezes diferenciado. O paciente sabe que a saúde não tem recursos suficientes, que o sistema de saúde é precário. Mas o profissional não pode levar isso como justificativa.
Então eu quero, como tantas pessoas gostariam de fazer, desabafar para que (e isso vale para diversas profissões) as pessoas assumam suas responsabilidades. Ainda mais quando essa responsabilidade é uma vida. “Crise de responsabilidade”, foi o termo empregado por um prefeito de uma cidade do Nordeste. Termo muito bem empregado, diga-se de passagem. Usar como desculpa a falta de recursos e a corrupção é praticar a mesma. Responsabilidade, antes mesmo da ética.
É claro que existe uma grande pressão em cima destes profissionais. É compreensível. Mas alguns são sistematicamente estúpidos. Atendem mal, examinam rapidamente e não dão nenhuma atenção cordial à pessoa que o chama de DOUTOR. Para finalizar, entregam uma receita ilegível. Isso depois de perder horas esperando a consulta, que durou 10 minutos.
Se essa culpa fosse dos governantes, não teriam profissionais atendendo carinhosamente, com respeito e interesse. Pois é, ainda existem muito médicos que acolhem o paciente e se preocupam com cada um dos muitos casos que recebem no dia-a-dia. Sentam e escutam, mesmo quase sem tempo, o que o paciente tem a lhes dizer. Hipócrates, tão antigo, já dizia: “a arte da medicina está em observar”. Para o paciente interessa mais saber o que lhe acontecerá nos dias seguintes do que o nome de sua doença. Explicar claramente a natureza da enfermidade e como agir para enfrentá-la alivia a angústia de estar doente e aumenta a probabilidade de adesão ao tratamento. Salvar vidas não é a missão impossível do médico, mas é a conseqüência da verdadeira missão: que é aliviar o sofrimento.
Só para concluir: “Em decisão unânime, a 3ª turma do Tribunal Regional Federal (TRF) deu um prazo de 30 dias para que o Sistema Único de Saúde inclua a cirurgia de mudança de sexo na lista de procedimentos cirúrgicos. Se a norma for descumprida, o SUS terá que pagar multa diária de R$ 10 mil.” Então eu pergunto para o ser que formulou isso: você já precisou entrar numa fila para aguardar uma cirurgia gratuita para aliviar seu sofrimento ou de algum de seus familiares? Acho que existem prioridades. O respeito é a primeira delas.
31.8.07
CARROSSEL DOS ESQUISITOS
"sou mais um no carrossel
dos esquisitos
gente feia a girar
nao é bonito?
juntos vamos celebrar
esta nossa palidez
que nao da pra disfarcar
como abutres no céu
sao quase lindos
dois feiosos a rodar
gritando e rindo
sao aberrações no ar
oh meu querido
fecha os olhos pra me beijar
que o mundo vai-se acabar
menos pra ti e pra mim
enquanto eu nao te olhar
de tao perto assim
pra nao me assustar
se uma bomba nuclear
tem a sua beleza
gente feia tem também
nem mesmo mata ninguém
que nao mereça sim
morrer por ser ruim
por fazer sofrer
quem me quer assim
sobramos só nós dois
ninguém pra comparar
o nosso bolo de arroz
com champanhe e caviar"
29.8.07
DE SAO BENTO DO SUL para o blog de Crislaine
São Bento do Sul, como toda boa cidade do interior do Brasil, não poderia deixar de ter uma festa sua também. É a Schlachtfest, uma forma de celebrar tudo o que de bom não falta nesse município: como alegria, boa música, danças típicas, mulheres bonitas, mesas fartas e a união de todo um povo, que apesar das inúmeras dificuldades que assolam a vida, não deixa de ser feliz e trabalhar para fazer da cidade um lugar cada vez melhor de se viver.
Nessa festa temos tudo o que falta nas grandes cidades, já que todos por aqui se conhecem e dividem um mesmo espaço urbano. Aqui, por exemplo, é muito mais divertido ir a um baile do que a um grande show, ou também porque aqui podemos, sim, celebrar a vida como jamais se faria em um grande centro. Quando que em uma capital poderíamos curtir a valer um “Desfile para a Rainha da Festa”, com moças tão belas que fazem as estrelas brilhar mais sobre o céu de São Bento, o desfile das ruas, onde todos se reúnem felizes, seja para desfilar, seja para assistir, ou um bom “torneio de canecos” onde a mais ilustre autoridade da cidade pode competir democraticamente com o mais humilde trabalhador?!
Isso tudo sem falar no parquinho de diversões onde todos são jovens, comem pipocas, algodão doce, e se refestelam com maçãs do amor.
Nada pode ser mais saudável que um sorriso estampado de orelha a orelha no rosto de quem dá à festa um verdadeiro significado.
Os preparativos não param e a 26ª Schlachfest promete mais uma vez superar as expectativas da população da cidade, que aguarda ansiosa o evento. As programações, a decoração e as comidas típicas, além dos inúmeros alemães da cidade, que vão trajados a festa, fazem nos sentir um pouquinho europeus, mas com uma euforia típica do Brasil.
27.7.07
SUGESTÃO
As descobertas vinham confusas
Daí a graça
Rosto e Corpo
Ele só quer é viver
Com os olhos atentos ao sangue grosso de suas veias
Chora-menino
Pega essa onda escura de amor
e mergulhe
Dentro de si
Homem maluco
Já desejei o teu gozo
Charme oculto em versos negros
Fecha a luz e os olhos
tenta dormir
Porque quero te pedir
Fortemente
Sem respirar
Fica sempre comigo
Amigo Orgânico.
26.7.07
Delicatessen
Você nunca conhece realmente as pessoas. O ser humano é mesmo o mais imprevisível dos animais. Das criaturas. Vá lá. Gosto de voltar a este tema. Outro dia apareceu uma moça aqui. Esguia, graciosa, pedindo que eu autografasse meu livro de poesia, "tá quentinho, comprei agora". Conversamos uns quinze minutos, era a hora do almoço, parecia tão meiga, convidei-a para almoçar, agradeceu muito, disse-me que eu era sua "ídala", mas ia almoçar com alguém e não podia perder esse almoço. Alguém especial?, perguntei. Respondeu nítida: "pé-de-porco". Não entendi. Como? "Adoro pé-de-porco, pé-de-boi também". Ahn... interessante, respondi. E ela se foi apressada no seu Fusquinha. Não sei por que não perguntei se ela gostava também de cu de leão. Enfim, fiquei pasma. Surpresas logo de manhã.
Olga, uma querida amiga passando alguns dias aqui conosco, me diz: pois você sabe que me trouxeram uma noite um pé-perna de porco, todo recheado de inverossímeis, como uma delicadeza para o jantar? Parecia uma bota. Do demo, naturalmente. E lendo uma entrevista com W. H. Auden, um inglês muito sofisticado, o entrevistador pergunta-lhe: "O que aconteceu com seus gatos?" Resposta: "Tivemos que matá-los, pois nossa governanta faleceu". Auden também gostava de miolo, língua, dobradinha, chouriços e achava que "bife" era uma coisa para as classes mais baixas, "de um mau gosto terrível", ele enfatiza. E um outro cara que eu conheci, todo tímido, parecia sempre um urso triste, também gostava de poesia... Uma tarde veio se despedir, ia morar em Minas... Perguntei: "E todos aqueles gatos de que você gostava tanto?" Resposta: "Tive de matá-los". "Mas por quê?!" Resposta: "Porque gatos gostam da casa e a dona que comprou minha casa não queria os gatos". "Você não podia soltá-los em algum lugar, tentar dar alguns?" Olhou-me aparvalhado: "Mas onde? Pra quem?" "E como você os matou?" "A pauladas", respondeu tranqüilo, como se tivesse dado uma morte feliz a todos eles. E por aí a gente pode ir, ao infinito. Aqueles alemães não ouviam Bach, Wagner, Beethoven, não liam Goethe, Rilke, Hölderlin(?????) à noite, e de dia não trabalhavam em Auschwitz? A gente nunca sabe nada sobre o outro. E aquele lá de cima, o Incognoscível, em que centésima carreira de pó cintilante sua bela narina se encontrava quando teve a idéia de criar criaturas e juntá-las? Oscar, traga os meus sais.
12.7.07
A um certo modo de olhar, a um certo jeito de dar a mão, nós nos reconhecemos e a isto chamamos de amor. E então não é necessário o disfarce: embora não se fale, também não se mente, embora não se diga a verdade, também não é mais necessário dissimular. Amor é quando é concedido participar um pouco mais. Poucos querem o amor, porque amor é a grande desilusão de tudo o mais. E poucos suportam perder todas as outras ilusões. Há os que se voluntariam para o amor, pensando que o amor enriquecerá a vida pessoal. É o contrário: amor é finalmente a pobreza. Amor é não ter. Inclusive amor é a desilusão do que se pensava que era amor. E não é premio, por isso não envaidece, amor não é prêmio, é uma condição concedida exclusivamente para aqueles que, sem ele, corromperiam o ovo com a dor pessoal. Isso não faz do amor uma exceção honrosa; ele é exatamente concedido aos maus agentes, àqueles que atrapalhariam tudo se não lhes fosse permitido adivinhar vagamente.
10.7.07
PARA MEU GRANDE E AMADO AMIGO: Ro. R. LEVI (que está de férias e a quem muitos aguardam o retorno)
Sigamos então, tu e eu,
Enquanto o poente no céu se estende
Como um paciente anestesiado sobre a mesa;
Sigamos por certas ruas quase ermas,
Através dos sussurrantes refúgios
De noites indormidas em hotéis baratos,
Ao lado de botequins onde a serragem
Às conchas das ostras se entrelaça:
Ruas que se alongam como um tedioso argumento
Cujo insidioso intento
É atrair-te a uma angustiante questão . . .
Oh, não perguntes: "Qual?"
Sigamos a cumprir nossa visita.
No saguão as mulheres vêm e vão
A falar de Miguel Ângelo.
A fulva neblina que roça na vidraça suas espáduas,
A fumaça amarela que na vidraça seu focinho esfrega
E cuja língua resvala nas esquinas do crepúsculo,
Pousou sobre as poças aninhadas na sarjeta,
Deixou cair sobre seu dorso a fuligem das chaminés,
Deslizou furtiva no terraço, um repentino salto alçou,
E ao perceber que era uma tenra noite de outubro,
Enrodilhou-se ao redor da casa e adormeceu.
E na verdade tempo haver á
Para que ao longo das ruas flua a parda fumaça,
Roçando suas espáduas na vidraça;
Tempo haverá, tempo haverá
Para moldar um rosto com que enfrentar
Os rostos que encontrares;
Tempo para matar e criar,
E tempo para todos os trabalhos e os dias em que mãos
Sobre teu prato erguem, mas depois deixam cair uma questão;
Tempo para ti e tempo para mim,
E tempo ainda para uma centena de indecisões,
E uma centena de visões e revisões,
Antes do chá com torradas.
No saguão as mulheres vêm e vão
A falar de Miguel Ângelo.
E na verdade tempo haverá
Para dar rédeas à imaginação. "Ousarei" E . . "Ousarei?"
Tempo para voltar e descer os degraus,
Com uma calva entreaberta em meus cabelos
(Dirão eles: "Como andam ralos seus cabelos!")
- Meu fraque, meu colarinho a empinar-me com firmeza o
queixo,
Minha soberba e modesta gravata, mas que um singelo alfinete
apruma
(Dirão eles: "Mas como estão finos seus braços e pernas! ")
- Ousarei
Perturbar o universo?
Em um minuto apenas há tempo
Para decisões e revisões que um minuto revoga.
Pois já conheci a todos, a todos conheci
- Sei dos crepúsculos, das manhãs, das tardes,
Medi minha vida em colherinhas de café;
Percebo vozes que fenecem com uma agonia de outono
Sob a música de um quarto longínquo.
Como então me atreveria?
E já conheci os olhos, a todos conheci
- Os olhos que te fixam na fórmula de uma frase;
Mas se a fórmulas me confino, gingando sobre um alfinete,
Ou se alfinetado me sinto a colear rente à parede,
Como então começaria eu a cuspir
Todo o bagaço de meus dias e caminhos?
E como iria atrever-me?
E já conheci também os braços, a todos conheci
- Alvos e desnudos braços ou de braceletes anelados
(Mas à luz de uma lâmpada, lânguidos se quedam
Com sua leve penugem castanha!)
Será o perfume de um vestido
Que me faz divagar tanto?
Braços que sobre a mesa repousam, ou num xale se enredam.
E ainda assim me atreveria?
E como o iniciaria?
.......
Diria eu que muito caminhei sob a penumbra das vielas
E vi a fumaça a desprender-se dos cachimbos
De homens solitários em mangas de camisa, à janela
debruçados?
Eu teria sido um par de espedaçadas garras
A esgueirar-me pelo fundo de silentes mares.
.......
E a tarde e o crepúsculo tão docemente adormecem!
Por longos dedos acariciados,
Entorpecidos . . . exangues . . . ou a fingir-se de enfermos,
Lá no fundo estirados, aqui, ao nosso lado.
Após o chá, os biscoitos, os sorvetes,
Teria eu forças para enervar o instante e induzi-lo à sua crise?
Embora já tenha chorado e jejuado, chorado e rezado,
Embora já tenha visto minha cabeça (a calva mais cavada)servida numa travessa,
Não sou profeta - mas isso pouco importa;
Percebi quando titubeou minha grandeza,
E vi o eterno Lacaio a reprimir o riso, tendo nas mãos meu
sobretudo.
Enfim, tive medo.
E valeria a pena, afinal,
Após as chávenas, a geléia, o chá,
Entre porcelanas e algumas palavras que disseste,
Teria valido a pena
Cortar o assunto com um sorriso,
Comprimir todo o universo numa bola
E arremessá-la ao vértice de uma suprema indagação,
Dizer: "Sou Lázaro, venho de entre os mortos,
Retorno para tudo vos contar, tudo vos contarei."
- Se alguém, ao colocar sob a cabeça um travesseiro,
Dissesse: "Não é absolutamente isso o que quis dizer
Não é nada disso, em absoluto."
E valeria a pena, afinal,
Teria valido a pena,
Após os poentes, as ruas e os quintais polvilhados de rocio,
Após as novelas, as chávenas de chá, após
O arrastar das saias no assoalho
- Tudo isso, e tanto mais ainda?
-Impossível exprimir exatamente o que penso!
Mas se uma lanterna mágica projetasse
Na tela os nervos em retalhos . . .
Teria valido a pena,
Se alguém, ao colocar um travesseiro ou ao tirar seu xale àspressas,
E ao voltar em direção à janela, dissesse:
"Não é absolutamente isso,
Não é isso o que quis dizer, em absoluto."
Não! Não sou o Príncipe Hamlet, nem pretendi sê-lo.
Sou um lorde assistente, o que tudo fará
Por ver surgir algum progresso, iniciar uma ou duas cenas,
Aconselhar o príncipe; enfim, um instrumento de fácil
manuseio,
Respeitoso, contente de ser útil,
Político, prudente e meticuloso;
Cheio de máximas e aforismos, mas algo obtuso;
As vezes, de fato, quase ridículo
Quase o Idiota, às vezes.
Envelheci . . . envelheci . . .
Andarei com os fundilhos das calças amarrotados.
Repartirei ao meio meus cabelos?
Ousarei comer um
pêssego?
Vestirei brancas calças de flanela, e pelas praias andarei.
Ouvi cantar as sereias, umas para as outras.
Não creio que um dia elas cantem para mim.
Vi-as cavalgando rumo ao largo,
A pentear as brancas crinas das ondas que refluem
Quando o vento um claro-escuro abre nas águas.
Tardamos nas câmaras do mar
Junto às ondinas com sua grinalda de algas rubras e castanhas
Até sermos acordados por vozes humanas. E nos afogarmos.
T.S.Eliot
28.6.07
BOLO DE MARSHMALOWWWWWWW
deitei no sofá
acordei as tres
lembrei de voce
queria te ver
deixei pra depois
assiti tv
fui passear
vou viajar
quero arrumar um emprego logo
depois engravidar
denovo
denovo denovo
nem sei se quero
só quero
um bolo de marshmalow
uma torta alemã
pular que nem uma rã
rimou neh
naum gostei
jah me esqueci de tudo
quero começar melhor
quero viver melhor
sem você
sem você e sem você
seus bando de bestas
ui
seres humanos canalhas
prefiro eu
e a valentina
linda menina
valentina
meu coracão explode
tdos os dias
de amor
de tédio
vou beber um gole
de vinho
pra vc sua besta
que perdeu seu tempo comigo
26.6.07
18.6.07
O Poeta Inventa Viagem, Retorno e Morre de Saudade
Se for possível, manda-me dizer:
- É lua cheia. A casa está vazia -
Manda-me dizer, e o paraíso
Há de ficar mais perto, e mais recente
Me há de parecer teu rosto incerto.
Manda-me buscar se tens o dia
Tão longo como a noite. Se é verdade
Que sem mim só vês monotonia.
E se te lembras do brilho das marés
De alguns peixes rosados
Numas águas
E dos meus pés molhados, manda-me dizer:
- É lua nova -
E revestida de luz te volto a ver.
11.6.07
CULPA
Aos olhos de quem não sabe voar
na mesma direção
Talvez por isso
tanta discordia
Auto-corroo-me
Só peço
carinho e paciencia
Se não puder
não possa
já sequei
nem te preocupes
Se quiser
estenda-te e tenta
accreditar
O segredo
pode ser nosso
sonho
ou ladrão?
23.5.07
Bem alto
Lá de cima observo meio que constantemente as pessoas. Tem uma mulher que vende pipocas ali na praça santos andrade. Meu santo! Ela sempre esta mastigando uma pipoca. Chega às 8 da manhã. Sai às 6 da tarde. Tem os estudantes. A fila da previdência social. Os pseudo-intelectuais que disputam o ingresso do teatro e depois vão tomar um café e fumar um cigarro e, quem sabe, fofocar ou ler um jornal. Carros e carros. E rodolfo. Eu o chamo assim. Espero que ele não se importe. Você não sabe, mas eu conheço rodolfo há muito tempo. Sinto algo de especial quando o vejo lá do alto. Mas nunca nem chego perto. Prefiro só olhar.
Rodolfo. Engraçado. Gosto da rotina dele. Muito mais do que das outras rotinas que posso observar daqui. Sei de tanta coisa...
Chega de falar de mim. Imaginem o que quiserem de um velho barbudo e grisalho que quis construir sua casa no terraço de um edifício. Engraçado. Custou caro este sonho. Podem imaginar, mas nunca vão saber o que é dormir nas nuvens.
Então vou falar do rodolfo. Meu ídolo. Um cachorro imbecil que mora no cantinho da praça. Não me pergunte qual canto. Sempre muda. E eu sempre o encontro. Observo atentamente como consegue comida ali no meio daquela multidão. Quando não consegue eu levo. Engraçado. Já joguei um pedaço de carne lá de cima e ele comeu. Admiro tanto este animal que, pra mim aqui no alto, parece mesmo que ele é gente. Melhor até que gente. Não fala. Mal late. É imperceptível. Parece autoconfiante e raramente o vejo cabisbaixo. Rodolfo, rodolfo...
Uma vez o trouxe para minha casa pelas escadas. Mentira. Trouxe pelo elevador. E depois pela escada. Porque o elevador não vem até aqui. Só até o ultimo andar mesmo. Logo percebi que ele não gostava de altura. Muita pena mesmo. Gosto dele. Cachorro imundo e sem rumo. Parece que baba.
Se eu fosse um cachorro viveria atrás de uma cadela. “Sou homem”, chorei de emoção.
Juana Dobro
1.4.07
O SUBCOBSCINETE REVELADO
No livro de William Burroughs, "Almoço Nu" - "um momento congelado em que todos vêem o que está na ponta do garfo" -, publicado em 1959, não há estória, enredo ou continuidade, nem a intenção de entreter alguém. O autor faz uma crítica à sociedade, por meio de um retrato da Interzone, uma cidade ficcional na qual os homens se transformam em insetos durante o sexo, o destino para onde Burroughs escapou depois de na vida real, acidentalmente, ter morto a sua mulher. E ele mesmo cita que, em seu livro, a palavra é dividida em unidades que formaram uma só peça e assim deve ser tomada, mas as peças podem ser consideradas em qualquer ordem, ligadas para trás e para frente, para dentro e para fora, antes e depois, como um interessante arranjo sexual. A maior preocupação que o autor tinha com o leitor era a visão do vício como modelo de controle e como uma fuga para as repressões impostas pela sociedade, relacionadas às potencialidades biológicas da humanidade.
Burroughs foi um dos grandes nomes da prosa beatnik, primeiro movimento de contra-cultura com uma importante repercussão histórica e cultural a acontecer nos Estados Unidos. Eram jovens que se conheceram dentro e fora da universidade, interessados em escritos não ortodoxos como Rimbaud, Blake, Melville, Withman, Kafka, Nietzsche, dadaístas e surrealistas, que simplesmente pareciam não se ajustarem nas imposições assépticas dos EUA. Inquietos e marginais eram expressamente contra a Indústria Cultural e apostavam em novas alternativas de vida. Buscavam lutar pelo próprio direito, não por um mundo melhor, nem por uma revolução, mas por uma opinião individual.
Burroughs nasceu em 1917 e viveu até o ano de 1997. Herdeiro rico, formado em medicina, foi viciado em heroína por 10 anos, e o relato desse tempo está em Junky, seu primeiro livro. “Almoço Nu” foi outro livro importante de sua obra, titulado por Jack Kerouac, no qual o autor “é capaz de olhar o inferno e contar para todos o que viu”. Com uma grande importância na literatura, a obra de Burroughs influenciou muitas outras expressões artísticas com as suas criações espontâneas, surreais e libertas de qualquer padrão.
David Cronenberg não se limita a folhear "Almoço Nu" e usar para a construção da narrativa de seu filme a própria vida de William Burroughs. "Mistérios e Paixões" enquadra-se numa trilogia específica, que embora não seja indiferente ao tema do corpo, explora abertamente a questão da capacidade da mente para controlar o nosso comportamento e o nosso destino. O poder imaginativo da mente afetada pela droga está presente em quase todas as cenas do filme. Uma viagem pela mente, onde o corpo se assume como protagonista, resulta no exagero dos devaneios do estado de psicose que o dedetizador William Lee (interpretado por Peter Weller) mergulha, chegando ao ponto de matar sua mulher (interpretada por Judy Davis), viciada em dedetê. Fato responsável pela fuga de Lee para a Interzone, uma cidade onde tudo é permitido.
A liberdade criativa do realizador, baseada num fascínio pela vida e obra de William Burroughs, resultaram num filme que ultrapassa as expectativas, ao transpor para o grande cinema a imaginação do universo de Burroughs, povoando as imagens da nossa experiência com fragmentos do mundo.