30.9.08

MEMÓRIAS DO SUBSOLO (Dostoievski)

“sou um homem doente... Um homem mau. Um homem desagradável. Creio que sofro do fígado. Aliás, não entendo níquel da minha doença e não sei, ao certo, do que estou sofrendo. (...) Mas, apesar de tudo, não me trato por uma questão de raiva. Se me dói o fígado, que doa ainda mais”. A leitura de Memórias do subsolo pode sair caro a uma consciência sem perturbações, por isso, não é recomendável.

28.9.08

Inespera-me

Eu perdi de vista meu destino. Peguei minha liberdade vermelha e por instantes mergulhei na noite como uma figurante do acaso. Não era eu não era. Oca. Nem sempre tudo termina no fim. Naquele dia, como se fosse para calar um pouco mais, isso se fez graça. Realmente temo o dia seguinte. Sempre tememos. Ora por gostar, ora por desgostar. Faço da vida um trapézio. E quando caio, caio em uma cama elastica que transporta para muito mais além do grito da dor. Acho que a meninice é meu contraponto. O motivo básico da minha vida é que em certa hora eu retorno do mergulho profundo e desato de rir do mundo. Eu tomei a iniciativa que era sua. Nunca imaginei que pudesse me surpreender. Tenho medo das pessoas, do que elas podem provocar em mim. Sou um cristal líquido. Não quebro quando líquida. Quebro em outras ocasiões. Não posso te agradecer assim porque você vai ficar sem entender nada. Eu não vou amar. Mas me apaixonarei em todos os momentos que forem necessários. Uma estratosfera de calma pousou aqui. E por aqui vai ficar. Momentos...

26.9.08

A matéria prima da arte moderna sao os sonhos

"Sonhos particularmente mais fortes e doces vinham depois da devassidãozinha, vinham com arrependimentos e lágrimas, com maldições e arrebatamentos".

O que havia era esperança e amor.
Ou herói ou lama.

Entre tantas mentiras havia algma verdade?
Eu me contradizo por medo e você se contradiz por que?

Melhor não dar a resposta.
Let it be.

19.9.08

Mulheres, mulheres

"(...) Neste ponto eu me deteria, mas as pressões da convenção o determinam que todo discurso deve terminar com uma peroração. E uma peroração dirigida às mulheres deve ter algo, voces hão de convir, de particularmente exaltador e nobilitante. Eu lhes imploraria que se lembrem de suas responsabilidades, que sejam mais elevadas, mais espirituais; eu lhes lembraria quanta coisa depende de vocês e que enorme influência podem exercer no futuro. Mas essas exortações, penso eu, podem ser tranqüilamente deixadas a cargo de outro sexo, que as colocará, e a rigor as tem colocado, com muito maior eloqüência do que posso alcançar. Quando vasculho minha própria mente, não encontro sentimentos nobres sobre sermos companheiras e iguais e influenciarmos o mundo para fins mais elevados. Descubro-me dizendo, breve e prosaicamente, que é muito mais importante se ser o que se é do que qualquer outra coisa. Não sonhem influenciar outras pessoas, eu diria, se soubesse fazê-lo de forma mais brilhante. Pensem nas coisas como são.

E mais uma vez vem-me à lembrança, mergulhando em jornais e romances e biografias, que, quando uma mulher fala com mulheres, deve ter algo muito desagradável escondido na manga. As mulheres são duras com as mulheres. As mulheres não gostam das mulheres. As mulheres - mas será que voces não estão completamente fartas da palavra? Garanto-lhes que eu estou. Concordemos, então, em que um artigo lido por uma mulher para mulheres deve terminar com algo particularmente desagradável.

Mas como é isso? Em que posso pensar? A verdade é que freqüentemente gosto das mulheres. Gosto de sua informalidade. Gosto de sua inteireza. Gosto de seu anonimato. Gosto... Mas não devo prosseguir desta maneira. Aquele armário lá... Vocês dizem que ele contém apenas guardanapos limpos, mas e se Sir Archibald Bodkin estiver escondido entre eles? Permitam-me então adotar um tom mais severo. Ter-lhes-ei eu, nas palavras precedentes, transmitido suficientemente as advertências e a exprobação da humanidade? Falei-lhes sobre o conceito muito baixo em que as tinha o Sr. Oscar Browning. Mostrei o que Napoleão pensou de vocês em certa época e o que Mussolini pensa agora. Depois, para o caso de alguma dentre vocês aspirar à ficção, transcrevi para seu bem a recomendaçãoo do crítico sobre reconhecerem corajosamente as limitações de seu sexo. Referi-me ao Professor X e dei destaque a sua afirmação de que as mulheres são intelectualmente, moralmente e fisicamente inferiores aos homens. Transmiti-lhes tudo o que veio a mim sem que eu procurasse, e aqui está uma advertência final, do Sr. John Langdon Davies. O Sr. John Langdon Davies adverte as mulheres de "que quando as crianças deixam de ser inteiramente desejáveis, as mulheres deixam de ser inteiramente necessárias". Esspero que vocês tomem nota disso.

Como posso incentivá-las mais a empreenderem a tarefa de viver? Minhas jovens, diria eu, e tenham a bondade de prestar atenção, pois a peroração está começando, voces são, a meu ver, vergonhosamente ignorantes. Nunca fizeram uma descoberta de qualquer importância. Nunca sacudiram um império ou levaram um exército à batalha. As peças de Shakespeare não são de sua autoria, e vocês nunca apresentaram uma raça de bárbaros às bençãos da civilização. Qual é sua desculpa? É muito fácil vocês dizerem, apontando para as ruas e praças e florestas do globo fervilhando de habitantes negros e brancos e cor de café, todos extremamente ocupados com o tráfego e as empresas e o fazer amor, que estivemos ocupadas com outro trabalho. Sem nosso trabalho, esses mares não seriam navegados e aquelas terras férteis seriam um deserto. Geramos e alimentamos e lavamos e instruímos, talvez até os seis ou sete anos de idade, o bilhão e seiscentos e vinte e três milhões de seres humanos que, segundo as estatísticas, existem atualmente, e isso, mesmo admitindo que algumas de nós tenhamos tido ajuda, leva tempo.

Há uma certa verdade no que vocês dizem, não o nego. Mas, ao mesmo tempo, permitam-me lembrar-lhes que existem pelo menos duas faculdades para mulheres na Inglaterra desde o ano de 1866; que, a partir do ano de 1880, a mulher casada foi autorizada, por lei, a possuir sua própria propriedade; e que em 1919 - e já se vão aí nove anos inteiros! - ela obteve o direito de voto. Será que posso também lembrar-lhes que a maioria das profissões está aberta a vocês há quase dez anos? Quando refletirem sobre esses imensos privilégios e sobre a extensão de tempo em que eles vêm sendo desfrutados, e sobre o fato de que deve haver, neste momento, umas duas mil mulheres capazes de ganhar mais de quinhentas libras por ano de um modo ou de outro, voces hão de concordar que a desculpa da falta de oportunidade, formação, incentivo, lazer e dinheiro já não se aplica. Além disso, os economistas têm-nos dito que a Sra. Seton teve filhos demais. Vocês devem, é claro, continuar a ter filhos, mas como dizem eles, aos dois e aos três, e não às dezenas e às dúzias.

Assim, com algum tempo em suas mãos e algum conhecimento livresco na cabeça - voces já tiveram o bastante do outro tipo e, em parte, suspeito de que estejam sendo enviadas à universidade para serem desinstruídas -, sem dúvida ingressarão num outro estágio de sua carreira muito longa, muito laboriosa e altamente obscura. Milhares de penas estão prontas para sugerir-lhes o que devem fazer e que efeito terão. Minha própria sugestão é um pouco fantástica, admito; prefiro, portanto, colocá-la em forma de ficção.

Disse-lhes, no transcorrer deste ensaio, que Shakespeare teve uma irmã; mas não procurem por ela na vida do poeta escrita por Sir Sidney Lee. Ela morreu jovem - ai de nós! Não escreveu uma só palavra. Ela está enterrada onde os ônibus param agora, em frente ao Elephant and Castle. Pois bem, minha crença é que essa poetisa que nunca escreveu uma palavra e que foi enterrada numa encruzilhada ainda vive. Ela vive em vocês e em mim, e em muitas outras mulheres que não estão aqui esta noite, porque estão lavando a louça e pondo os filhos para dormir. Mas ela vive; pois os grandes poetas nunca morrem, são presenças contínuas, precisam apenas da oportunidade de andarem entre nós em carne e osso. Essa oportunidade, segundo penso, começa agora a ficar a seu alcance conferir-lhe. Pois minha crença é que, se vivermos aproximadamente mais um século - e estou falando na vida comum que é a vida real, e não nas vidinhas à parte que vivemos individualmente - e tivermos, cada uma, quinhentas libras por ano e o próprio quarto; se tivermos o hábito da liberdade e a coragem de escrever exatamente o que pensamos; se fugirmos um pouco da sala de estar comum e virmos os seres humanos nem sempre em sua relação uns com os outros, mas em relação à realidade, e tb o céu e as árvores ou o que quer que seja, como são; se olharmos mais além do espectro de Milton, pois nenhum ser humano deve tapar o horizonte, se encararmos o fato de que não há nenhum braço em que nos apoiarmos, mas que seguimos sozinhas e que nossa relação é para com o mundo da realidade e não apenas para com o mundo dos homens e das mulheres, então chegará a oportunidade, e o poeta morto que foi a irmã de Shakespeare assumirá o corpo que com tanta freqüência deitou por terra. Extraindo sua vida das vidas das desconhecidas que foram suas precursoras, como antes fez seu irmão, ela nascerá. Quanto a ela chegar sem essa preparação, sem esse esforço de nossa parte, sem essa determinação de que, quando nascer novamente, ela achará possível viver e escrever sua poesia, isso não podemos esperar, pois isso seria impossível. Mas afirmo que ela viria se trabalhássemos por ela, e que trabalhar assim, mesmo na pobreza e na obscuridade, vale a pena."

Virginia Woolf, outubro de 1928.

17.9.08

À sua presença

“Vixi Maria como eu precisava ouvir isso”. Ela sentiu os dedos do pianista em cada nota que soava em seu ouvido. Bela música. Mais uma vez bela. Você sabe usar as palavras assim como as notas e compor essa melodia. Que de hora em hora cruza minha vida e me deixa feliz. Cadáveres putrefatos. Possivelmente, isto é, muito provavelmente. Dançamos a vida. E em vastos momentos nos damos às mãos. Nem os duplos calmantes que escondem as mentiras nos tornam menos sensíveis à luz do dia. Somos o que somos o que queríamos e o que deveríamos ser. Sensiveis. Sinceros e belos. Por isso lastimamos tanto. Quanto ao futuro? Não me preocupa. Preocupa-me esse passado mal passado. Sangra a carne vermelha de sangue. Acho que gosto das coisas assim. Só vou evitar a carne excessiva. Dar mordidas menores. Agora me lembro do mordida: “você deixou saudades, por aqui”. “Uma flor em pedaços, no jardim”.
Eu não tenho mais lágrimas, mas ainda tenho a presença. Gosto disso, acho. Tem que ser homem mesmo. Embora sejam raras as ocasiões que consegui. A presença é a autenticidade. Coisa rara meu querido amigo. Nós a temos e temos de sobra. Alguién quiere? OÔôôôÔ. É facil ter. Difícil é ter.
Estamos aqui pro que der e vier. O carinho nunca será ausente. Nem presente. Nem lembrança. É real e não é coletivo. Eita. Sempre assim. É sempre igual. Tudo não passa de passado. Tudo só fica se for lembrança. Felicidade é utopia. No no no alegria.
Uma piscadinha pra tu.

Esta é uma nota de agradecimento.

8.9.08

Só isso

Eu temo o fim. O fim é como a morte. Sempre inexplicavel. E o meu reflexo volta a ser meu eu refletido. Já não darei um falso futuro a cada vislumbre de instantes. Partirei para o meu interior numa excursão de eus que andam vagando sem direção. Juntei-os todos e vamos passear nessa alma mórbida que compõe o meu ser. Eu não me sinto triste. A tristeza já passou. Não me sinto alegre. Me sinto aliviada. Não mereço ter. Mereço ser e devo fazer isso mais bem feito. No never posses. É que confundo as coisas e quando vejo, eu erro, mas erro com intençao de acertar. Me culparia se não fosse assim. Ora não me culpo por tentar. Eu temo o fim, mas ele chega finalmente e para de ensaiar. Agora tem platéia. Platéia que aplaudirá muito. Isso é gratificante para um ator. Um ator na arte de atuar na vida. E os ultimos passos se fazem dança. Se não emocionou, talvez é porque não tenha valido nada. Eu me despeço com lágrimas e guardo comigo a verdade, na qual quase ninguem pode acreditar. Porque só são mentirosos para a vida aqueles que carregam nela a verdade. Eu queria iniciar e quebrar o enigma das coisas. Mas a força não estava na mão, estava apenas nos dedos. Leve-os contigo. Eu agora sou só e assim quero ser. Afastem-se todos. Não há mais valor.

3.9.08

PEDIDO DE ETERNIDADE

A sorte grande da vida sai somente aos que a compram por acaso. Não há destino, há merecimentos. Não sei quantos terão contemplado, merecidamente, o amor verdadeiro. Incondicional. Eu não acreditava nisso. Uma zebra é impossível para quem não conheça mais que um burro. Há dias que sobe em mim uma vontade imensa de viver, de cultivar e de planejar. Só não me é insuportável porque de fato estou apreciando suportar. É um estrangulamento do passado e do futuro. Uma breve noticia de que tudo começou. Por degraus de sonhos e cansaços meus você me traz a sua irrealidade, desce e substitui o meu mundo. Eu não sonho possuir teu corpo. Isso seria banal demais. Sonho os momentos. Como se nosso amor fosse uma oração. Meus tédios serão padre-nossos e minhas angustias ave-marias. Entre nós existem sombras cujos passos soam frios. É a humanidade. Como vitrais um em frente ao outro. Homem e mulher. Vitrais eternos. Podemos ser pintados por qualquer artista que dorme sob um tumulo godo onde dois anjos de mãos postas gelam em marmore a ideia de morte. O que sonhamos é verdadeiramente o que somos. Por isso nunca me sinto tão proxima da verdade. Apenas num livro, circo, teatro, filme e ao seu lado meu menino. A mais vil de todas as necessidades: a da confidência, a da confissão. A necessidade da alma ser exterior. É por isso que você se tornou o pai e o marido. É por isso tudo que hoje dividimos nossa vida e ganhamos outra vida e outras que ainda virão. Eu encontrei a pessoa com que eu quero dividir. Eu amo você.