Não acho cabível que dezenas de pessoas aguardem o atendimento pelo SUS nos postos e hospitais, enquanto outras se dirigem a “portinha ao lado” e recebem atendimento imediato quando PAGO. Esta não é uma realidade apenas da minha cidade, muito menos do meu Estado. Mas acredito que, ao menos para mim, é muito mais constrangedor se dirigir, silenciosamente, à “portinha ao lado” do que aguardar tranquilamente na fila.
Pior que isso, muitas vezes, é o atendimento recebido. Existe um grave descaso que separa os pacientes que pagam dos que não pagam. E o atendimento, que deveria ser igual, é muitas vezes diferenciado. O paciente sabe que a saúde não tem recursos suficientes, que o sistema de saúde é precário. Mas o profissional não pode levar isso como justificativa.
Então eu quero, como tantas pessoas gostariam de fazer, desabafar para que (e isso vale para diversas profissões) as pessoas assumam suas responsabilidades. Ainda mais quando essa responsabilidade é uma vida. “Crise de responsabilidade”, foi o termo empregado por um prefeito de uma cidade do Nordeste. Termo muito bem empregado, diga-se de passagem. Usar como desculpa a falta de recursos e a corrupção é praticar a mesma. Responsabilidade, antes mesmo da ética.
É claro que existe uma grande pressão em cima destes profissionais. É compreensível. Mas alguns são sistematicamente estúpidos. Atendem mal, examinam rapidamente e não dão nenhuma atenção cordial à pessoa que o chama de DOUTOR. Para finalizar, entregam uma receita ilegível. Isso depois de perder horas esperando a consulta, que durou 10 minutos.
Se essa culpa fosse dos governantes, não teriam profissionais atendendo carinhosamente, com respeito e interesse. Pois é, ainda existem muito médicos que acolhem o paciente e se preocupam com cada um dos muitos casos que recebem no dia-a-dia. Sentam e escutam, mesmo quase sem tempo, o que o paciente tem a lhes dizer. Hipócrates, tão antigo, já dizia: “a arte da medicina está em observar”. Para o paciente interessa mais saber o que lhe acontecerá nos dias seguintes do que o nome de sua doença. Explicar claramente a natureza da enfermidade e como agir para enfrentá-la alivia a angústia de estar doente e aumenta a probabilidade de adesão ao tratamento. Salvar vidas não é a missão impossível do médico, mas é a conseqüência da verdadeira missão: que é aliviar o sofrimento.
Só para concluir: “Em decisão unânime, a 3ª turma do Tribunal Regional Federal (TRF) deu um prazo de 30 dias para que o Sistema Único de Saúde inclua a cirurgia de mudança de sexo na lista de procedimentos cirúrgicos. Se a norma for descumprida, o SUS terá que pagar multa diária de R$ 10 mil.” Então eu pergunto para o ser que formulou isso: você já precisou entrar numa fila para aguardar uma cirurgia gratuita para aliviar seu sofrimento ou de algum de seus familiares? Acho que existem prioridades. O respeito é a primeira delas.
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