25.10.07

MÃE-COISA

(isso me lembra algo muito importante que eu perdi há algum tempo atrás)

Eu- Clarice,
Clarice - Eu.

Eu me abri e você de mim nasceu. Um dia eu me abri e você nasceu para você mesmo. Quanto ouro correu. E quanto rico sangue se derramou. Mas valeu a pena: és pérola de meu coração que tem forma de sino de pura prata. Eu me esvaí. E tu nasceste. E me apaguei para que tu tivesses a liberdade de um deus. És pagão mas tens a benção da mãe.

E. E a mãe sou eu.

Mãe túmida. Mãe seiva. Mãe árvore. Mãe que dá e nada pede de volta.

Mãe música de órgão.

Hasteia a bandeira, filho, na hora de minha sagrada morte. E dou tal profundo grito de horror e louvor que as coisas se partem à vibração de minha voz única. Choque de Estrelas. Pelo enorme monstruoso telescópio me vês. E eu sou gélida e generosa como o mar. Morro. E venho de longe como o silente Ravel. Sou um retrato que te olha. Mas quando quiseres ficar só com a tua namorada-esposa cobre minha cara doce com um pano escuro e fosco - e eu nada verei. Eu sou mãe-coisa pendurada na parede com respeito e dor. Mas que funda alegria em ser mãe. Mãe é doida. É tão doida que dela nascem filhos. Eu me alimento com ricas comidas e tu mamas em mim leite grosso e fosforescente. Eu sou o teu talismã.

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