8.11.09

Às manchas da solidão

Fechada no meu canto com os gritos ocos dos suicídios, nenhum foi capaz de ouvir as pulsações que me permitem o amor pela vida. Ninguém amou mais do que eu nesta casa. Não é preciso conhecer meu corpo para me sentir verdade. E nesse cálice de sangue podem até me confundir com um assassino. Talvez se tivessem olhos às pessoas teriam talhado essas madeiras. Não é ouro o que brilha em mim. (neste momento você se aproxima e me vê jogado no chão chorando suado de beber o vinho derramado sobre minha camisa branca, você pega o copo de minha mão e bebe, enche novamente e bebe) O silencio fala no lugar da imensidão de idéias repousadas que ficaram num passado esquecível. Que tudo se desintegre na medida que meus sentimentos se consomem. Pouco me importa que você veja meus lamentos. O que levou contigo é muito maior do que o que por aqui permaneceu. E não há tempo que cure a covardia de um homem. Os sermões do mundo me cansam. Estendo as mãos brancas e ainda quentes para que essa chuva de domingo molhe e refresque minha ilusão. (é meio dia, toca o sino, todos sentam sobre a mesa e sorriem como de costume) Para os que me vêem desequilibrado eu não creio que existam numa margem de paixões. Não me conhecem, ninguém, senão eu, me conhece. Então eu me tranco diante do real-ilusório e me escondo na minha imaginação. Como alguém que tivesse tudo o que precisasse para viver com a boca seca, sem água, só sal, suas aventuras nocivas. Vejo-te lavando as mãos. Não tenho nada pra lhe dizer. Porque tudo que eu pude ouvir foi o barulho do meu parto quando nasci e já deveria saber: os braços do destino em mim se fechavam. Hoje sinto desejos em certos braços quentes, mas nada posso fazer com esses vasos quebrados. Meu calor derrete minha’lma, são de barro. Mesmo assim eu atiro minhas palavras pela janela, junto com as lembranças de dor e raiva e o gosto amargo da minha saliva cansada. Eu vejo tudo fosco à minha frente. A menina sonhadora que tanto traçou seus passos, sempre sorrindo. Louca, como diziam as vozes fracas. Não eram com estradas que eu sonhava. Jamais me passou pela cabeça o abandono dos meus valores. Sumir e percorrer caminhos em busca da felicidade. Eu logo percebi que fora dos limites do meu lar só encontraria decepção. Também cedo percebi que a solidão me alimentava. Mas eu não posso deixar que o vazio escape pelos meus poros. É aqui que eu comungo. Só assim posso cultuar a vida e saboreá-la obscenamente como uma criança pura deitada num gramado verde. É a minha escuridão, repleta de cores próprias que nunca, nunca serão vistas pelos Outros.