30.3.09

A thousand kisses deep (Leonard Cohen)

For Those Who Greeted Me *)

1. You came to me this morning
And you handled me like meat.
You´d have to live alone to know
How good that feels, how sweet.
My mirror twin, my next of kin,
I´d know you in my sleep.
And who but you would take me in
A thousand kisses deep?

2. I loved you when you opened
Like a lily to the heat.
I´m just another snowman
Standing in the rain and sleet,
Who loved you with his frozen love
His second-hand physique -
With all he is, and all he was
A thousand kisses deep.

3. All soaked in sex, and pressed against
The limits of the sea:
I saw there were no oceans left
For scavengers like me.
We made it to the forward deck
I blessed our remnant fleet -
And then consented to be wrecked
A thousand kisses deep.

4. I know you had to lie to me,
I know you had to cheat.
But the Means no longer guarantee
The Virtue in Deceit.
That truth is bent, that beauty spent,
That style is obsolete -
Ever since the Holy Spirit went
A thousand kisses deep.

5. (So what about this Inner Light
That´s boundless and unique?
I´m slouching through another night
A thousand kisses deep.)

6. I´m turning tricks; I´m getting fixed,
I´m back on Boogie Street.
I tried to quit the business -
Hey, I´m lazy and I´m weak.
But sometimes when the night is slow,
The wretched and the meek,
We gather up our hearts and go
A thousand kisses deep.

7. (And fragrant is the thought of you,
The file on you complete -
Except what we forgot to do
A thousand kisses deep.)

8. The ponies run, the girls are young,
The odds are there to beat.
You win a while, and then it´s done -
Your little winning streak.
And summoned now to deal
With your invincible defeat,
You live your life as if it´s real
A thousand kisses deep.

9. (I jammed with Diz and Dante -
I did not have their sweep -
But once or twice, they let me play
A thousand kisses deep.)

10. And I´m still working with the wine,
Still dancing cheek to cheek.
The band is playing "Auld Lang Syne" -
The heart will not retreat.
And maybe I had miles to drive,
And promises to keep -
You ditch it all to stay alive
A thousand kisses deep.

11. And now you are the Angel Death
And now the Paraclete;
And now you are the Savior's Breath
And now the Belsen heap.
No turning from the threat of love,
No transcendental leap -
As witnessed here in time and blood
A thousand kisses deep.


September 21, 1998

Um presente-surpresa, fantastico!

Que a vida humana é apenas um sonho outros já disseram, mas também a mim esta idéia persegue por toda a parte. Quando penso nos limites que circunscrevem as ativas e investigativas faculdades humanas; quando vejo que esgotamos todas as nossas forças em satisfazer nossas necessidades, que apenas tendem a prolongar uma existência miserável; quando constato que a tranqüilidade a respeito de certas questões não passa de uma resignação sonhadora, como se a gente tivesse pintado as paredes entre as quais jazemos presos com feições coloridas e perspectivas risonhas - tudo isso me deixa mudo. Meto-me dentro de mim mesmo e aí acho um mundo! Mas antes em pressentimentos e obscuros desejos do que em realidade e ações vivas. E então tudo paira a minha volta, sorrio e sigo a sonhar, penetrante adiante no universo.
Que as crianças não sabem o porquê de desejarem algo, todos os pedagogos estão de acordo. Mas que também homens feitos se arrastem como crianças, titubeando sobre a face da terra, e, exatamente como elas, não saibam de onde vêm e para onde vão, até mesmo que não têm um fim determinado para suas ações, igualmente governados por biscoitos, balas e chibatas, ninguém faz gosto em acreditar. Quanto a mim, parece-me que não há realidade mais palpável do que essa.
Concordo de boa vontade, até porque sei o que vais me dizer a respeito disso, que são exatamente essas as pessoas mais felizes. Essas mesmas que, como crianças, vivem o dia-a-dia sem pensar no futuro, arrastam suas bonecas por aí, vestem-nas, despem-nas, e voltam cheias de respeito diante da gaveta onde a mamã chaveia os bombons, e quando logram êxito, enfim, fazendo com que ela os dê, devoram-nos estufando a boca e gritando: Mais!...Sim, estas é que são criaturas felizes! A coisa também vai bem para aqueles que dão um título imponente para seus trabalhos vagabundos, ou até para seus sofrimentos, e os descrevem como obras gigantescas em prol da salvação e da prosperidade do gênero humano... Feliz daquele que consegue proceder assim! Mas aquele que reconhece em sua humildade onde tudo isso vai parar, quem vê quão gentil é o burguês ao ornamentar seu jardinzinho e elevá-lo a categoria de paraíso; quem tem noção de como o infeliz se arrasta infatigável pelo caminho, sob seu fardo, interessado apenas em contemplar por um minuto a mais a luz do sol – este, asseguro, também é tranqüilo e, ao construir um mundo dentro de si, é feliz do mesmo jeito por ser humano. E então, por mais limitado que esteja em seus movimentos, ele mantém no coração a doce sensação de liberdade, sabendo que poderá deixar o seu cárcere quando quiser.

GOETHE

27.3.09

Tão simples,tão igual, tão complexa é a relação humana

"O que busco na fala é a resposta do outro. O que me constitui como sujeito é minha pergunta" J. Lacan

26.3.09

LET´S GO

Mas é preciso ter força, é preciso ter raça
É preciso ter gana sempre
Quem traz no corpo a marca
Maria, Maria, mistura a dor e a alegria
Mas é preciso ter manha, é preciso ter graça
É preciso ter sonho sempre
Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania de ter fé na vida

19.3.09

Pincel na mão do bobo

Toda vez que tento me dar bem eu me fodo. No pior sentido e mais grosso que a palavra pode trazer. Na melhor intenção do ser pagão, que comete o crime e lava as mãos. Sou apenas um humano preso no esgoto. Ao menos não fedo, seu azedo.
Um dia desses acabei dormindo muito mais do que devia. Quando acordei estava em um prédio muito alto, mas muito mais alto do que poderia ser possivel. Nunca mais dormi depois disso. Passei a deixar a luz acesa. Não por medo não. Eu sei que você está pensando bobeira a meu respeito. Seu merda. Já ouviu falar em ambição? É recreio agora, deixe para responder depois. Tome seu suco de laranja mecânica. É só uma suposição. Eu estou bem longe dali. Foi por isso que pude ver algo que ninguém mais viu. Um imenso balão de gás. Alguma pobre criancinha desgraçada perdeu o balão assim que o ganhou. Nem todos são acariciados no amor individual. Eu faço parte dos perdedores. Loseres. E o balão viajou galáxias, rodopiou ventos fortes e foi fotografado por vários ufólogos maneirissimos da pequena cidade de Vagina. Já viram aviões. Mas a graça não é essa, dá pra entender? A imensidão me assusta por isso fico pensando que são objetos inúteis na atmosfera dos valores meus. Quero ser pescadora de sonhos alheios. Pescarei o seu. Eu quero proteger esta casa de tudo que está abaixo dela. Até das almas penadas. Não gosto de ocultismo. Vamos nos exibicionar. Cortem os cabelos, tirem as roupas e mostrem o que há por trás dessa manta roxa que a vovó fez para o mundo se cobrir. Chorem como eu e amem, amém. Puta que o pariu, cmabolwieusba. É domingo todo dia em mim. Esta terra é de comer. Um dia desses virarei santa. Minha Mãezinha abençoará todos os imbecis do planeta com um copo de água pura. Da fonte. Eu serei luz e todos dependerão de mim. Porque no meu ventre gerei verdade, mesmo que nunca ninguém pode acreditar. Não verás o ar se não tocares o mar. Deita-te sobre o véu que era pra ser azul que eu derramo em ti minha baba horrorosa. Não é martírio não. É luto pela cegueira do meu coração.

ATRÁS DA PORTA (chorando com chico)

Quando olhaste bem nos olhos meus
E o teu olhar era de adeus
Juro que não acreditei, eu te estranhei
Me debrucei sobre teu corpo e duvidei
E me arrastei e te arranhei
E me agarrei nos teus cabelos
Nos teu peito, teu pijama
Nos teus pés ao pé da cama
Sem carinho, sem coberta
No tapete atrás da porta
Reclamei baixinho
Dei pra maldizer o nosso lar
Pra sujar teu nome, te humilhar
E me vingar a qualquer preço
Te adorando pelo avesso
Pra mostrar que ainda sou tua
MULHER

18.3.09

Severina

Eu presenciei as cenas. Embora não seja uma atriz dramática. Fui uma expectadora ilusão. Não me amem, não me permitam isso. Tem sangue na minha roupa. Eu pequei e não encontro o maldito perdão. Melhor assim. Vivo agora semi-nua no oco da irrazão.

15.3.09

O Cara Coroa (por Fabio Biondo)

O feio é diferente do bonito
O cinza é diferente do colorido
A diferença pode estar na cor
Na forma, na maneira que se informa
No desejo que se pede
Na maneira que se perde
No peito que aperta
Na vida que se acerta
Na falha que se aceita
Aceita assim que a luz da lua
É menos intensa que a do sol
E que nas noites intensas
Você não faz falta
Mas ainda falta eu te dizer

3.3.09

Canto eu /canta você

Porque tenho pouca coragem quando devo ter muita
E muita quando devo ter pouca
Sou paradoxalmente rouca
Tenho uma perna que tenta andar
Enquanto a outra descansa
Para além do acaso
Onde estiver
o destino não me agarada como raiz

Dele nasce o julgamento
E é só o que dizem ao meu respeito
Há uma podridão de valores
Invertidos
enrustidos
Irresistiveis

Perversão da pérola do meu suave climax

Eu perdi o desejo que arde
em verdade pura

Na troca ganhei algumas fatias instantâneas

Nunca senti-me tão ausente de mim
Como me sinto na deriva da arte dilascerante de tentar amor
Monalisa do sorriso fraco

Ao meu beijo tua vida me saía
Como num trabalho paciente do peão
Eis a fuga do espírito individual

Estamos todos doentes por nos sentirmos doentes

Assim foram feitos os tecidos opacos e sem cor
Grandes e bonitos demais para mim

1.3.09

AO DESEJO (ultimo desejo)

por Hilda Hilst

Quem és? Perguntei ao desejo.
Respondeu: lava. Depois pó. Depois nada.


I
Porque há desejo em mim, é tudo cintilância.
Antes, o cotidiano era um pensar alturas
Buscando Aquele Outro decantado
Surdo à minha humana ladradura.
Visgo e suor, pois nunca se faziam.
Hoje, de carne e osso, laborioso, lascivo
Tomas-me o corpo. E que descanso me dás
Depois das lidas. Sonhei penhascos
Quando havia o jardim aqui ao lado.
Pensei subidas onde não havia rastros.
Extasiada, fodo contigo
Ao invés de ganir diante do Nada.


II

Ver-te. Tocar-te. Que fulgor de máscaras.
Que desenhos e rictus na tua cara
Como os frisos veementes dos tapetes antigos.
Que sombrio te tornas se repito
O sinuoso caminho que persigo: um desejo
Sem dono, um adorar-te vívido mas livre.
E que escura me faço se abocanhas de mim
Palavras e resíduos. Me vêm fomes
Agonias de grandes espessuras, embaçadas luas
Facas, tempestade. Ver-te. Tocar-te.
Cordura.
Crueldade.


III

Colada à tua boca a minha desordem.
O meu vasto querer.
O incompossível se fazendo ordem.
Colada à tua boca, mas descomedida
Árdua
Construtor de ilusões examino-te sôfrega
Como se fosses morrer colado à minha boca.
Como se fosse nascer
E tu fosses o dia magnânimo
Eu te sorvo extremada à luz do amanhecer.



IV

Se eu disser que vi um pássaro
Sobre o teu sexo, deverias crer?
E se não for verdade, em nada mudará o Universo.
Se eu disser que o desejo é Eternidade
Porque o instante arde interminável
Deverias crer? E se não for verdade
Tantos o disseram que talvez possa ser.
No desejo nos vêm sofomanias, adornos
Impudência, pejo. E agora digo que há um pássaro
Voando sobre o Tejo. Por que não posso
Pontilhar de inocência e poesia
Ossos, sangue, carne, o agora
E tudo isso em nós que se fará disforme?

Existe a noite, e existe o breu.
Noite é o velado coração de Deus
Esse que por pudor não mais procuro.
Breu é quando tu te afastas ou dizes
Que viajas, e um sol de gelo
Petrifica-me a cara e desobriga-me
De fidelidade e de conjura. O desejo
Esse da carne, a mim não me faz medo.
Assim como me veio, também não me avassala.
Sabes por quê? Lutei com Aquele.
E dele também não fui lacaia.