8.9.12

A ausência

Ao chegar na terceira estação já é possível observar os diferentes percursos que percorri nos últimos meses. Sensação de ter quebrado os parapeitos que eu ainda podia me apoiar. Em todas as esquinas de todas as cidades por onde passei alguns olhos me perseguiam com o desejo cruel que eu fosse descoberta, que me prendessem nesse calabouço cuja saída não seria menos pior. Feliz é aquele que nunca acaba de ver. Posso escutar as gargalhadas secas dessa plateia. Sem problemas... é o risco de sempre querer estar na estação, no ápice, no dilúvio. E quando me recolho, apago as luzes, me desboto. Passo a andar em linhas de zigue e zague para ganhar tempo e desviar os vãos que tu me destes. Uma valeta que só tropeça quem não toma cuidado. No final de cada viagem, as paginas em branco são examinadas minuciosamente, exceto quando pegas de surpresas.

2.9.12

Blue moon

Esse corredor eu já atravessei. A mesma dor que me arranca tudo pela raiz. Essa mesma intensidade as vezes me persegue feito alegria. Dessa confusão que nunca se completa alimento em mim uma angustia infinita. E com um ventinho qualquer pode virar tempestade ou escultura. Sou uma escultora. E a realidade sempre foi invisível. Há quem diga que eu custo a enxergar. Também tem quem me acuse de mentirosa. No meu mundo a floresta sempre foi escura e cheia de enigmas monstruosos. Embora já conheci o paraíso. Eu fecho a porta da minha casa com pedras e espinhos. Abro-as apenas na hora do jantar. Estendo as palmas da mão cheias de vida, mas todo aquele que se senta na mesa vê minhas mãos vazias. Como se uma magia me tirasse o direito de ser. Ali na mesa, diante de todos os copos e versos manuscritos, talheres, facas e garfos, todos comem rapidamente para irem embora feito cães saciados. Já com receio tenho aprendido a tirar a mesa, lavar os pratos e esperar a noite seguinte, um outro jantar, com a mesma face me olhando como se nunca soubesse o que era amar.