Não tenho foto
Nem faculdade
Nem historia
Sou frio
Velho
E arisco
Moro no mato
No quarto
Na escuridão de mim
No quinto
É o jeito de viver
Se choro, é que já sorri por tudo
Se burro, é porque cansei de aprender
“intelectuar” por ai
Meu pulmão preto
resultado da vivência
do contato com seres que se consomem
Que morrem e matam
Que fumam e se estilizam
Que bebem e sorriem
Que choram e mentem
Enganam-se e viram gente
Só é o meu lugar
O quarto pode ser o quinto
E é só lá que me vejo
Feliz e no aconchego
E sem essas rimas normais
Que me cansam
Assim como as pessoas que vejo
E as que me olham
As imundas que invejam
As bonitas que sorriem
E as burras felizardas
As corpudas cheias de vento
E silicone
E meu cérebro preto
resultado de tudo que já vi.
E não compreendi, nem quero mais
Alias, nem o quero mais!!!
14.12.08
8.12.08
ANA CRISTINA CÉSAR
Aventura na Casa Atarracada
Movido contraditoriamente
por desejo e ironia
não disse mas soltou,
numa noite fria,
aparentemente desalmado;
- Te pego lá na esquina,
na palpitação da jugular,
com soro de verdade e meia,
bem na veia, e cimento armado
para o primeiro a andar.
Ao que ela teria contestado, não,
desconversado, na beira do andaime
ainda a descoberto: - Eu também,
preciso de alguém que só me ame.
Pura preguiça, não se movia nem um passo.
Bem se sabe que ali ela não presta.
E ficaram assim, por mais de hora,
a tomar chá, quase na borda,
olhos nos olhos, e quase testa a testa.
Movido contraditoriamente
por desejo e ironia
não disse mas soltou,
numa noite fria,
aparentemente desalmado;
- Te pego lá na esquina,
na palpitação da jugular,
com soro de verdade e meia,
bem na veia, e cimento armado
para o primeiro a andar.
Ao que ela teria contestado, não,
desconversado, na beira do andaime
ainda a descoberto: - Eu também,
preciso de alguém que só me ame.
Pura preguiça, não se movia nem um passo.
Bem se sabe que ali ela não presta.
E ficaram assim, por mais de hora,
a tomar chá, quase na borda,
olhos nos olhos, e quase testa a testa.
ESPELHO
Sou prata e exato. Eu não prejulgo.
O que vejo engulo de imediato
Tal qual é, sem me embaçar de amor ou desgosto.
Não sou cruel, tão somente veraz —
O olho de um deusinho, de quatro cantos.
O tempo todo reflito sobre a parede em frente.
É rosa, com manchas. Fitei-a tanto
Que a sinto parte de meu coração. Mas vacila.
Faces e escuridão insistem em nos separar.
Agora sou um lago. Uma mulher se inclina para mim,
Buscando em domínios meus o que realmente é.
Mas logo se volta para aqueles farsantes, o lustre e a lua.
Vejo suas costas e as reflito fielmente.
Ela me paga em choro e agitação de mãos.
Sou importante para ela. Ela vai e vem.
A cada manhã sua face reveza com a escuridão.
Em mim afogou uma menina, e em mim uma velha
Salta sobre ela dia após dia como um peixe horrendo.
SYLVIA PLATH
5.12.08
SER PEDANTE
Dedico estes versos ao primeiro homem
(por hora o leitor não terá como saber, porque o primeiro e o terceiro, assim como o do meio, são o mesmo)
Lerá portanto o que eu escrevo agora
E não me importa a tristeza
Do secreto futuro onde víamos nós
E não havia mais nós
Não há um único ato que não corra o risco
Confesso
Ainda o amo amor de raiz
Como houve um primeiro romance
As mãos tremiam a voz rouca
Tudo queria tocar, sentir
Foi aí que o adeus começou a me doer feito faca
Estabeleci um vinculo
O sabor já não era meu
Mas eu aceitei provar
Naquele exato momento disse a mim mesma:
Estarei junto dele no infinito e nos seus braços dormirei
Ele segurou meus dedos e permitiu o prazer
Negro prazer
Aqui sim a praça teve graça e a rima rimou tanto que travou a língua do personagem menino que ria de seu destino
Eita piedade
Depois de fotografar a cena
Não sobrou nem carvao
O leito desceu a margem
E a sede me fez pedir
Hoje as palavras arrebentam a minha secreta catedral tipográfica
E meu único nome já não queria existir
É tempo de Natal.
E é cinza o poema descrito
Sofro ter ouvidos e calos
O que ainda sinto é o verbo pronunciado
Por tua boca
Por tua mao
E que nessa hora eu possa lembrar
Que todo instante solitário
É também uma véspera
De outro amor
De um quarto homem,
Que eu ainda sonho
Em permanecer primeiro
De tanto acreditar e com medo
Não acredito com medo
De ter que desacreditar
MALDIÇAO
Quero ser enterrada do seu lado
Como num filme extraordinário
Em que nada pode dar certo
Porque esta sempre foi a nossa escolha.
(por hora o leitor não terá como saber, porque o primeiro e o terceiro, assim como o do meio, são o mesmo)
Lerá portanto o que eu escrevo agora
E não me importa a tristeza
Do secreto futuro onde víamos nós
E não havia mais nós
Não há um único ato que não corra o risco
Confesso
Ainda o amo amor de raiz
Como houve um primeiro romance
As mãos tremiam a voz rouca
Tudo queria tocar, sentir
Foi aí que o adeus começou a me doer feito faca
Estabeleci um vinculo
O sabor já não era meu
Mas eu aceitei provar
Naquele exato momento disse a mim mesma:
Estarei junto dele no infinito e nos seus braços dormirei
Ele segurou meus dedos e permitiu o prazer
Negro prazer
Aqui sim a praça teve graça e a rima rimou tanto que travou a língua do personagem menino que ria de seu destino
Eita piedade
Depois de fotografar a cena
Não sobrou nem carvao
O leito desceu a margem
E a sede me fez pedir
Hoje as palavras arrebentam a minha secreta catedral tipográfica
E meu único nome já não queria existir
É tempo de Natal.
E é cinza o poema descrito
Sofro ter ouvidos e calos
O que ainda sinto é o verbo pronunciado
Por tua boca
Por tua mao
E que nessa hora eu possa lembrar
Que todo instante solitário
É também uma véspera
De outro amor
De um quarto homem,
Que eu ainda sonho
Em permanecer primeiro
De tanto acreditar e com medo
Não acredito com medo
De ter que desacreditar
MALDIÇAO
Quero ser enterrada do seu lado
Como num filme extraordinário
Em que nada pode dar certo
Porque esta sempre foi a nossa escolha.
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