11.11.08

minha familia e seu fins de semana

Ela estava sentada no chão da cozinha. Livro nas mãos. Grande Sertão: Veredas. Aquela edição especial. Capa vermelha e branca. “Contar é muito dificultoso. Não pelos anos que se já passaram. Mas pela astúcia que tem certas coisas passadas - de fazer balancê, de se remexerem dos lugares.” Toda saudade é uma espécie de velhice. Aí deu vontade de pensar um pouco nas coisas. Como aquilo foi parar ali e como se sumiram aquelas panelas. Isso porque ela dispersava. Mesmo quando a leitura a entretinha. Fazia parte de seu jeito. Aí bateu uma imensa vontade de ser um jagunço. Jagunço não se escabreia com perda nem derrota - quase tudo para ele é o igual.
Pelo livro e pela responsabilidade da vida. Desta vez não chorou uma lagrima. E naquele instante o pensamento se fez mais forte que o lugar. Nem a lua teve vez. Nada mais. A resposta vinha: “Deus existe mesmo quando não há. Mas o demônio não precisa de existir para havê”. Sertão é o sozinho. Honesto de si para si. Quem ama é muito escravo, mas não obedece nunca de verdade.
Era hora de parar a leitura. Mas não conseguiu nem sequer respirar. Algo doía-lhe muito ainda. Dor de faltar fôlego até para pegar um cigarro na gaveta. Levantou e fez um ar de quem iria gritar, mas falou manso e baixo: -¬¬¬ Vingar, digo ao senhor: é lamber, frio, o que o outro cozinhou quente demais. Prosseguiu olhando no espelho, como se olhasse uma janela: - Quem desconfia, fica sábio.
Fechou rapidamente o livro e lavou o rosto em água fria. Depois repetiu o gesto em água morna. Acho que chorou, mas não deu para ver direito se era água ou choro. Eu sei que ela deve pensar como eu. Nunca encontrará as respostas de que precisa. Por isso permanecerá calada. Mas nunca alcança a porta para poder fechá-la.
É tarde da noite. E a noite é sempre uma amiga leal. Nossa, como se parecesse comigo. Nos gostos e pensamentos. Nos sentimentos. (não se engane com as pessoas/ não se precipite)
“Como vi que ele me olhava com aquela enorme paciência - calma de que minha dor passasse; e que podia esperar muito longo tempo. O que vendo, tive vergonha, assaz .
Mas , por fim , eu tomei coragem , e tudo perguntei:
-"O senhor acha que a minha alma eu vendi , pactário?! "
Então ele sorriu, o pronto sincero, e me vale me respondeu :
-"Tem cisma não. Pensa para diante. Comprar ou vender, às vezes, são as ações que são as quase iguais ..."
(...)
Cerro. O senhor vê. Contei tudo. Agora estou aqui, quase barranqueiro. (...) Amável senhor me ouviu, minha idéia confirmou: que o Diabo não existe. Pois não? O senhor é um homem soberano , circunspecto. Amigos somos. Nonada. O diabo não há! É o que eu digo, se fôr ... Existe é homem humano. Travessia.”

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