13.11.07

Cuidado fatal (1)


Cada um leva seus punhais, pistolas, rifles e carabinas. Eu levava minha coragem escondida. Por vezes nem eu percebia que ela existia. Passavam-se dias em pranto até redescobir. Volto ao exílio. E tenho-o guardado em minha maleta. Pequena maleta vermelha que ainda terei de carregar. Quase perdi ela esses dias. Achei que tivesse perdido. Talvez perca. Propositalmente. Mas isso não vem ao caso.

Os relógios marcam teimosamente as horas. Eu ainda espero. É verdade. E dá para colar um cristal quebrado?

Dei tudo que tinha. "Lancei meus poemas na arena". Fui incompreendida.


Eu sou uma contrabandista de idéias, pensamentos, verdades, mentiras e personagens. E embora não pareça tenho muita paciência.


Certo dia fui há um clube de dança e encontrei um senhor. Parecia-me mais jovem e parecia muitas coisas que não eram. Ele falava bonito. Era engraçado e gostava muito de música. Batemos altos papos culturais movidos a cachaça e admiração mútua. Alegria nutrida de solidão e transformada em orgulho. Era um brilhante pianista que fazia das notas sua fala. Ao contar e cantar tudo o que passava. Ao encantar quem o fitava. Eu fui o seu público por aquele instante. E por outros mais. Eu fui de Beethoven à Dresden Dolls. Assim, o senhor pianista me viciou com sua notinhas classicas, punks, dodecafônicas, infinitas.



Eu queria beijá-lo, mas não sabia disso. Demorei a descobrir.


Mas esqueci de descrevê-lo. Ele tem os olhos negros e resistentes. Tristes. Acho que rancor, sei lá. Tipo de um soldado inimigo. Mas o sorriso acalma o olhar e desmascara. E tudo vira o contrario. E o soldado já parece um anjo caído. Os traços fortes. Brutos. Cabelos pretos, lisos. Oscila entre uma aparencia adulta e um visual de moleque. Mas ele prefere não ser nada. Não parecer nada. Nem sentir...


Depois eu saí daquele lugar. Tava estressada com o mundo. Queria beber. Encontrar pessoas. Aproveitar o momento que haviam me proporcionado. E fui. Fui mesmo. Ele ficou preocupado comigo. Engraçado como as coisas invertem o sentido. Invertem o sentir.


Eu vou falar de mim agora. Do coração muro de pedras restou um coração espedaçado quase quase em reconstituição. Ele me devolveu uma boa parte. Mas logo tomou-a para si e tomou ainda mais do que havia me dado. E eu fiquei aqui. Sentada. A sós com minhas palavras. Mas feliz por tê-lo beijado, ainda não falei nada sobre isso, mas logo conto. O beijo me mostrou uma vida há tanto tempo desolada. Leve. Bruto e intenso. Aff!!!!


(continua...)

5 comentários:

Anônimo disse...

até agora esse é o meu favorito.

beijo

Anônimo disse...

Que bom, fico feliz...

Anônimo disse...

ah, fco feliz q vc ficou feliz..ah

Juana Dobro disse...

opa
hahhaha
todos felizes!

Juana Dobro disse...

Eh quase seu o texto, sao quase suas as palavras e é meu o sentimento mas é nosso o momento. Eitaa, guardo-o em mim boy.