As pegadas pareciam lentas demais para quem tem pressa de sentir as coisas. Afinal ela era uma flor, mas não fazia parte das espécies raras. Não possuía quase fragrância alguma. Vinha em uma única cor. Mas era uma flor e nisso acreditava. Sentia o orvalho das manhãs. Encolhia-se perante o poderoso sol. E sorria a brisa noturna. Era sua preferida. Porque ela vinha mansa.
Às vezes, porém, temia a alegria. De tão normal que era. Era e não sabia. Suas narinas aspiravam, nunca o pólen alheio. Também era única nas suas milhares semelhantes. Pois sofria calada a dor de estar viva durante o dia.
Foi um dia desses. Um cavalheiro se aproximou. Dom Quixote urbano. Parece praxe. Deu uma fungadinha tão bem dada que sentiu o perfume que nunca existira. Suspiros. Ela não queria. O dia.
Isso era a flor. Tem gente diferente. Que prefere ser igual. Ser loucura do que se sente.
Uma imagem de santo que permanece indiferente a tudo e a todos que ali imploram. Um café mais puro para madame. Um tostão para o falido. Uma prece por que prece se pede quem é religioso. Glórias. Améns e bênçãos. A benção pra todo mundo. Aí vem a donzela. Queria eu ser donzela. E pede uma flor. Ai ai ai ai. Vem bem pra ela a flor sem cor que prefere a noite. Estraga tudo. Ou será que o santo acertou na reza e cumpriu seu dever? Deveras.
Todos choramos a vida.
25.8.08
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Um comentário:
Definitivamente você tem um talento extraordinário para escrever.
Congratulations.
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